terça-feira, 9 de abril de 2013

Vovô Décio, nosso Mazzaropi!

Recentemente descobri que o grande cineasta Mazzaropi e o meu bisavô Décio faziam aniversário no mesmo dia. Hoje, se fossem vivos, Mazzaropi estaria completando 101 anos e vovô, 97 anos. 
O mais legal dessa coincidência é que, durante muitos anos, o apelido do vovô Décio foi, exatamente, Mazzaropi. Vovô era um grande fã dos filmes do humorista, além de ambos compartilharem uma considerável semelhança física e até mesmo psicológica.


Vovô Décio













Assistir um filme do Mazzaropi, para mim, é como reencontrar um velho e bom amigo. A saudade aperta, mas também abranda, pois posso imaginar claramente o vovô sorrindo de bem com a vida, como sempre o vi, durante toda sua vida.  

As situações absurdas e cômicas que acontecem nos filmes do Mazzaropi não são tão absurdas para quem conheceu e conviveu com o vovô Décio. Muitas histórias que ele nos contava dariam excelentes ideias para roteiros de filme! 


Sempre me lembro, por exemplo, da história do lobisomem! Vovô Décio ainda era um menino quando voltava de uma festa, à noite, carregando a sanfona de seu pai, Felício. Meu tataravô Felício era chamado para animar todos os bailes da região, com a sua sanfona. Naquele tempo, as estradas e ruas não tinham nenhum tipo de iluminação pública. Além disso, para voltar dos bailes, os dois passavam por trilhas e caminhos tortuosos, em meio ao mato e a escuridão. Voltar de festas, naquela época, era sempre uma aventura perigosa. 
Foi em um desses caminhos escuros que vovô e seu pai escutaram um grunhido ameaçador, e, de repente, se depararam com um par de olhos assustadores, que os espiava em meio aos arbustos. Vovô Felício logo declarou que era um lobisomem, e rapidamente riscou um palito de fósforo. O bicho observou o fogo se consumindo por um instante, e resolveu fugir, correndo...

Vovó Ana me contou, muitas décadas depois, que os lobisomens costumavam ser moços amaldiçoados por serem o 8° filho de uma família com 7 filhas. E que, inclusive, ela conhecia um homem nas vizinhanças, o qual vivia com ar adoentado e fraco, sendo ele um provável candidato a lobisomem. 

Vovô Décio também sempre contava que, inúmeras vezes, seus cavalos amanheciam com a crina e o rabo trançados. E que isso, com certeza, era uma molecagem do saci-pererê.
Nunca discuti e nem ao menos parei para pensar na veracidade dessas histórias. No auge dos meus 8 ou 9 anos, o lobisomem da história do vovô Décio se tornou uma lenda. Durante toda minha infância sempre adorei imaginar um mundo onde lobisomens assombravam mocinhas desamparadas, e sacis saltitavam por aí, incomodando os cavalos.

Vovô - de paletó e quepe -  e o seu famoso caminhão

Vovó Ana e Vovô Décio














Outra situação, com certeza digna de cena de filme, foi a vez que o vovô perdeu o freio do caminhão na descida. Ele ia fazer uma entrega do seu depósito, com o caminhão carregado de tijolos e materiais de construção, quando sentiu o veículo
perdendo o controle, e se viu, de repente, sem freio. Em um ato reflexo, vovô jogou o caminhão em um barranco, antes que o mesmo atingisse uma velocidade incontrolável.



Agora, me falem a verdade, vocês não concordam que essas cenas do filme "Sai da Frente", na versão do vovô Décio, teriam ficado muito mais emocionantes?!!

       



Falar sobre o vovô Décio sempre me coloca um sorriso automático no rosto. Com o vovô tudo sempre tinha uma solução rápida, prática e genial! Pra tudo dava-se um jeito! Lembro como se fosse hoje do incrível sistema complexo que ele mesmo construiu no poleiro das galinhas, para que, no exato momento em que uma delas botasse um ovo, ele escorregasse por um buraquinho no ninho, e fosse transportado por uma espécie de tubo, em plena segurança, para cair em um saco de batatas velho, garantindo assim o omelete do almoço!
Garrafas "pet" com água, cheias de furinhos, colocadas dentro dos vasos das plantas garantiam a quantidade de água suficiente para as flores, sem nenhum transtorno ou preocupação. Técnica criada, provada e atestada pelo vovô Décio! 
Sua porta está batendo na parede e danificando tanto a porta quanto a parede do seu cômodo?? Não se preocupe! Basta colar uma esponja de lavar louças na parede, e, voilà! Sua porta será amortecida por esse pequeno detalhe decorativo na parede de sua cozinha! Praticamente uma instalação de arte moderna! Via essas e outras soluções geniais todo final de semana na casa do vovô!

Vovô no seu depósito, aproximadamente em 1960.

Por isso a melhor homenagem que eu posso fazer ao vovô Décio, e ao Mazzaropi, é reservar algumas horinhas do dia de hoje para assistir e dar muita risada com um de seus filmes clássicos. Afinal, para esses dois a vida sempre foi feita de muito bom humor e alegria, e é assim que eu sempre me lembro deles! 
E vocês que estiverem lendo, porque não fazem o mesmo? Garanto que vocês vão se divertir e muito!

Vovó Ana e Vovô Décio, no aniversário de 90 anos do Vovô.
Eu e Vovô, mais ou menos em 2004

4 comentários:

Vanessa Canoso disse...

Ameiiiii! Não sabia que eles tinham tanto em comum, adorei as comparações!
O Vovô Décio deixou muitas saudades, mas sempre vai estar presentes nas histórias mais inusitadas para a gente continuar dando risada mesmo sem ele por perto, né? Adorei!!
beijocas!

Edna disse...

Cris, adorei!!
Realmente ele sempre foi uma lição de vida para todos nós!!
Muitas saudades...
Parabéns pela linda e poética homenagem no dia de seu aniversário...

Renê disse...

Muito Legal!!!! Me deu muita saudade!!! Eu que participei de muitas, muitas "molecagens" junto com ele, minha cabaninha no quintal da minha casa, construída por ele com tijolos e barro, funilaria caseira na minha Brasilia, feita com zinco e piche, meu primeiro carrinho de rolimã, minha primeira pipa e muito mais... Que saudade boa!!!

Anônimo disse...

Cris, foi muito bom ler sua homenagem ao meu querido irmão! Vc me fez dar boas gargalhadas e relembrar nossa infância. Parabéns!! Vc é DEZ!! (Tia Ivone Marianno Bóbice) Beijos