quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Pater Noster qui es in caelis...


Uma visita ao Museu de Arte Sacra me fez perceber que há muito tempo eu não entrava em uma igreja. Talvez por esse nunca ter sido um hábito familiar. Talvez por medo de não saber como me comportar corretamente. Ou talvez pelo simples fato de que igrejas católicas são construídas e projetadas com um objetivo claro: fazer as pessoas sentirem-se ínfimas e microscópicas diante de um profundo olhar superior.

O fato foi que, por alguma razão, resolvi me dar uma chance naquela tarde, e entrei na Capela Frei Galvão, que é anexa ao museu. Não era hora de missa. Não haviam padres no altar, nem na nave. Reparei em alguns poucos fiéis ajoelhados no genuflexório. Crianças corriam entre os bancos. Um casal jovem tirava fotos dos ricos detalhes da abóbada. Previ uma atualização no instagram com hashtags do tipo: #sagrado e #instaholy. Abafei a risada. Algumas senhoras acendiam velas e dirigiam olhares de censura em direção às crianças e ao casal. Seus rostos enrugados e cansados mostravam ao mundo o quanto elas eram ungidas e imaculadas, apenas pelo fato de colocarem fogo em um cilindro de cera aos pés de um altar vazio.

Fiz o sinal da cruz. Sentei-me. E percebi que não sabia o que pensar, nem como agir. Rezei um pai-nosso e uma ave-maria, como se isso me redimisse de algum pretenso pecado, e continuei sentindo-me no lugar errado. Meus pensamentos novamente começaram a bater asas e quando dei por mim, repetia o pai nosso em latim, ininterruptamente.
Sim, aprendi o pai-nosso em latim em algumas aulas que fiz na faculdade, e gosto de repeti-lo, não por devoção, mas por que acho bonito e sonoro.

Achei que já tinha ido longe demais e saí dali pensando que, assim como uma estudante de intercâmbio chinesa, que não entenderia o significado de nenhuma daquelas imagens e palavras sagradas, a maioria de nós, ocidentais, também não compreende. Eu, pelo menos, sei que não.

Aquelas imagens não despertam em mim mais do que curiosidade. Elas não me tocam profundamente, nem me fazem sentir fé ou esperança. Encontro fé e esperança em outros lugares. Lugares muito mais amplos e arejados do que sob as redomas escuras e claustrofóbicas das catedrais apostólicas romanas. Não me entendam mal, o ambiente das igrejas católicas, pra mim, tem um apelo quase antropológico. Vejo-as também como museus. Como retratos vivos de comportamentos que continuam fortemente arraigados na sociedade.

Definitivamente, adoro construções suntuosas e antigas. E isso inclui as igrejas. Mas gosto com o apreço de um arqueólogo que encontrou uma artefato raro. Gosto de olhar os detalhes, de analisar comportamentos e reações, de ouvir os sermões e encontrar contradições, de tentar encontrar sentido nos textos escritos em latim pelas paredes... Gosto de me sentir como Indiana Jones em busca do santo graal.

O quão errado será tudo isso, vindo de uma pessoa chamada "Cristiane de Jesus"? Ou o quão certo? 

2 comentários:

Luan Rocha de Campos disse...

Três palavras de um futuro teólogo, pretenso a filósofo, que futuramente será antropólogo: Lindo, poético e religioso. Sim, religioso. Sentir o Sagrado, Estar com o Sagrado, Entender o Sagrado ou apenas Olhar o Sagrado é o que encontramos no seu texto. Para rezar não é necessário o Pai Nosso em Latim ( se souber, maravilha), mas um coração puro, poético, sincero e cheio de sabores para compartilhar. Com quem? Com você mesma, com os seus amigos, com a sua família.... Com... Deus!!! Sim!!! Sacrifício melhor que esse não existe!!!! O que você expressa ao dizer que não sabia o que falar, mesmo depois de rezar um pai-nosso e uma ave-maria, é um sentimento de Ser, de Pertencer, de Existir. Quer coisa melhor que essa? Ter a pertença de você faz parte de algo maior, de algo infinitamente maior!!!! Você rezou mais e melhor que muita gente, habituadas desde pequenas, por causa de costumes familiares, a irem à missa todos os dias ou à igreja diariamente para se confessar. Essas, na maioria das vezes, fazem isso por puro mecanicismo. Você o fez pelo ato puro e simples. Termino com a passagem de Hb 13,15s : "Por meio de Jesus, portanto, ofereçamos continuamente a Deus um sacrifício de louvor, que é fruto de lábios que confessam o seu nome. Não se esqueçam de fazer o bem e de repartir com os outros o que vocês têm, pois de tais sacrifícios Deus se agrada". Faça o bem, pense em Deus, entregue-se ao Amor. Beijos....

|Cami| disse...

Cris, sou suspeita pra falar do Museu de Arte Sacra porque já trabalhei lá, mas super entendo o que você sentiu. As imagens ali me comoviam como obras de arte produzidas num determinado período, não pelo cunho religioso que elas tinham. Nada vejo de errado nisso: todos temos nossa própria maneira de fazer algo bom pra nós mesmos e pro mundo e não necessariamente precisamos professar uma fé única para fazer o bem.
Mil beijos, mulher e continue escrevendo! x33333